Hoje precisei escrever sobre minha experiência em ir fazer a
matrícula do Guilherme em uma escola para o primeiro ano, em 2017.
Guilherme estuda em escola regular, CMEI- Centro municipal
de Educação Infantil, devo acrescentar que por mais dificuldades que a escola
publica apresente no que se refere a inclusão escolar eles ainda me parecem bem
melhores do que as escolas particulares.
Depois que o Gui nasceu eu decidi ir cursar Pedagogia para
poder entender melhor os processos de aprendizagem dele, e as leis que o amparam quanto pessoa com deficiência na escola regular. Passamos por alguns mal
bocados, geralmente a indicação das escolas regulares é que você matricule seu
filho na escola especial, dizendo que é a mesma coisa somente uma modalidade
diferente. Aqui entramos em um assunto sensível para algumas famílias, eu
entendo que o melhor é a escola regular com atendimento multidisciplinar em
contra turno, amparado por lei e discutido vastamente na literatura sobre o
tema. Porém precisamos ter sensibilidade, a família deve ser instruída, mas a
escolha é dela, vendo todos os obstáculos que escola regular geralmente coloca
para a inclusão de crianças com deficiência é compreensível que muitas famílias
não se sintam seguras em optar por ela, e prefiram a escola especial, o que deve
acima de tudo ser respeitado. A inclusão
da criança em escola regular deve ser algo que aconteça de uma forma natural,
uma escolha da família e com amparo da escola, forçado para escola regular ou
especial podemos geral um trauma na família e principalmente na criança. Eu,
mãe, aspirante a pedagoga e curiosa no tema prefiro, e indico escola regular
por conta de inúmeros estudos e, em um especial que é a zona de conhecimento
proximal desenvolvida por Vygotsky, da qual eu sou seguidora, ela diz, mais ou menos
isso, que não há um estudante igual a outro que as habilidades individuais são
distintas, o que significa também que cada criança avança em seu próprio ritmo.
À primeira vista, ter como missão lidar com tantas individualidades pode
parecer um pesadelo. Mas o que realmente existe aí, ao alcance de qualquer
professor, é uma excelente oportunidade de promover a troca de experiências (pretendo
escrever somente sobre isso em breve).
Pois bem, voltando para Guilherme, sempre encontrei as mais
diversas barreiras para deixa-lo na escola regular, inúmeros argumentos o que
confesso que ter estudado pedagogia me deu embasamento para refutar todos eles
com base em estudos publicados, MÃES A CIÊNCIA ESTÁ DO LADO DA INCLUSÃO, não
deixe que alguém lhe convença do contrário.
Essa semana fui fazer a matrícula dele para o primeiro ano,
fui com coração na garganta, pensando em todos os argumentos que eu poderia
usar para rebater todos os empecilhos que como sempre me apresentam, fui com as
mãos geladas e suando frio. Cheguei na escola avisei sobre a matrícula e pedi
para conversar com a diretora, pois sei que para receber uma criança com deficiência
é necessária uma organização um pouco diferente da habitual, juro que a ânsia de
vômito pelo nervosismo estava insuportável, eu respirei fundo para não sair
tudo pela boca ali na secretaria da
escola.
Quando avisei a diretora que eu estava matriculando meu
filho com paralisia cerebral, epilético e me preparei para um olhar fulminante
com ares do porque você não escolheu outra escola, tinha que ser justo a minha (a
matrícula de criança com deficiência é compulsória isto é, não pode ser negada)
porque foi assim em todas as vezes que matriculei ele. Eu em posição de defesa
com todos os argumentos, todas as leis abertas na minha cabeça fui surpreendia
por um SEJA BEM VINDO GUILHERME. Eu engoli o choro, quis mostrar que aquilo era
normal na nossa vida, mesmo que nunca tenhamos sido tão bem recebidos em uma
escola, pois que em todos os lugares o que vejo são olhares de reprovação como
se meu filho fosse um estorvo, não que isso me importe hoje, mas não pensem que
eu não percebo os olhares, os comentários. Partimos então para conversar como
se daria a adaptação do Guilherme, sobre como a escola funciona, qual é a dinâmica
de um 1º ano, atividades e por ai vai, me comprometi a escrever um relatório
sobre quais atividades ele já desempenha sozinho, quais precisa de auxilio, o
que ele já sabe o que precisa ser ensinado.
Quando eu sai da escola, e virei a esquina eu não aguentei,
eu desabei a chorar, eu sei que a atitude dessa diretora deveria ser o comum e
deveria ser assim que estivéssemos acostumados a ser tratados, mas não é,
estamos acostumados com caras feias, com comentários maldosos, com insinuações de
que ele é um estorvo que ocupa vaga de quem precisa e isso me dói tanto. Dói
porque o Guilherme é puro amor, ele tem amor suficiente para acabar com essa discórdia toda, ele não vê classe, não vê raça ou credo ele ama a todos,
por que a gente só dá o que tem, e ele só tem amor. Sei que teremos
dificuldades impostas pelo próprio sistema ou pela cultura de inserção na
escola, sei que teremos inúmeros desafios, mas enfrentar tudo isso em um lugar
que se mostrou acolhedor no primeiro contato me deu tanta, mais tanta esperança
que agora vai, que vocês não imaginam, e eu estou aqui escrevendo e chorando, pois pela primeira vez saímos de uma escola sem nos sentirmos indesejados e
isso foi o melhor que eu recebi em todos esses anos de escola regular.
Eu sei que vocês, mães e pais entendem o que eu estou
sentindo, e compreendem o motivo do meu choro, pois são tantos nãos, tantos
nãos que quando ouvimos um sim, ficamos sem ação e nos resta chorar mesmo, porque
filho é nossa parte mais sensível.
Obrigada diretora, obrigada escola, vocês me proporcionaram
um fim de ano tão tranquilo, com tanta alegria e segurança, que para vocês pode
ter sido só mais um dia de trabalho, mas para mim foi a primeira experiência boa
em seis anos de muita luta, muito choro e sofrimento pela educação inclusiva.